sábado, 7 de agosto de 2010

O fim de um ideal

É uma trajetória muito difícil, cheia de pedras e flechadas no caminho. A sociedade não está pronta e nem quer estar pronta a ser justa, validar os direitos humanos do próximo e tirar o foco do próprio umbigo, afinal, nesta sociedade brasileira o que importa é o EU, o VOCÊ jamais.
Eu acabo por desistir, mais uma mãe foi calada, eu não sou a primeira e infelizmente não serei a última, mãe e filhos são banidos da sociedade, o única relação que nós temos com a sociedade é um aviso de “não perturbe”.


Ontem em reunião com o Secretário da Educação de Jundiaí realizei algo que incomoda demais, porém é assim que a vida é no Brasil, “a Lei existe sim, mas veja bem, nem toda Lei é pra ser cumprida”, palavras do Sr Secretário da Educação, e ele segue em sua explicação, “no Brasil se tem mania de que quando há algum problema cria-se uma Lei, mas isso não quer dizer que essa Lei entra em vigor”.

A Lei discutida é o tratado de Salamanca de 1994, um acordo firmado por todos os Países pertencentes a ONU, o que inclui o Brasil, sobre os direitos das pessoas com deficiência e os deveres da sociedade em acolhe-los e dar-lhes oportunidades justas. Os Países se compromentem a entender que essas diretrizes são partes de direitos humanos das pessoas com deficiência.

Mas, como no Brasil não há meios de se amparar na Lei porque o poder exwecutivo, em qualquer instância, decide que Lei e para quem ela deve ser aplicada, as famílias ficam a mercê de favores e de troca de favores.

É uma situação desconfortável, para não dizer vergonhosa. Hoje eu sinto uma bola de espinhos na minha garganta e está difícil de engolir e eu me pego pensando: se eu não consigo despertar empatia dentro da minha própria família, que seria uma mini sociedade, se eu não consigo despertar empatia das pessoas próximas, o que eu posso esperar de apoio da grande sociedade? Coisa boa é que não é.

Eu sou uma pessoa amarga que não sei viver a vida porque me preocupo com bobagens como Direitos Humanos e justiça social. Eu sou uma pessoa marginalizada pela sociedade porque acredito que as oportunidades deveriam ser iguais à todos, eu sou marginalizada e vista como louca, intransigente porque me choca saber que eu não sou a única varrida para fora da sociedade e meu filho não é o único discriminado em que se fecham às portas de uma vida digna.

Também sou chamada de inflexível porque não aceito que as expectativas em relação ao meu filho e qualquer pessoa com deficiência seja traçada na linha do “não vale à pena”, fico idginada e sou sim inflexível perante a discursos colocando seres humanos com dificuldades em grupos de “essas pessoas não há o que se fazer”, sou inflexível ao não se dar uma oportunidade de comunicação alternativa somente porque meu filho tem dificuldade para falar.

Fico indignada, inflexível e intransigente ao saber que é de conhecimento comum de todos, inclusive das autoridades que existem “depósitos de gente” e ninguém se comove, se revolta, porque as pessoas que estão lá não podem realizar coisas básicas por si só, nem mesmo gritar por socorro.

Marie

Um comentário:

  1. Marie, sua dor e amesmaq que doi em mim e que me desculpem os que nao entendem... nao e facil aqui nos EUA, as vezes nem possivel dependendo do ponto de vista, mas nao e injusto, nao e... que vergonha de saber que no BR se inventa lei porque e bonito fazer parte de um acordo... que vergonha...
    eu so posso te abracar, mesmo que virtualmente... te ligo esta semana, mesmo de ferias.
    BJS

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