terça-feira, 27 de abril de 2010

O despertar

Ainda do livro: Sounds of the Gorilla'Nation



"Pode parecer estranho para as pessoas acostumadas a ativamnte fazer escolhas em suas vidas, mas eu vivi minha vida até este ponto sem saber que eu poderia fazer uma escolha e esta escolha poderia me engranceder. A vida era algo que estava além do meu controle: eu sempre era pega num redemoinho de sons, cores, cheiros e sentimentos que varriam minha mente e meu corpo somente seguia. Pessoas e eventos eram coisas para serem sobrevividas, não havia tempo para planos, meditação, elaboração de uma opinião ou algum desejo para o futuro. Ir ao zológico é uma das milhares de ações que as pessoas tomam como garantia que não requerem muito esforço.



Eu me lembro quão nervosa eu estava quando me aproximei da caixa para comprar meu bilhete e eu tive que contar meu dinheiro e interagir com a caixa. Eu dizia a mim mesma que se eu conseguisse transpor esse ponto, todo o resto do dia seria como um banquete a ser desfrutado. Eu sabia que o zológico mantinha segredos a serem descobertos por mim."

...

Quando a autora avistou os gorila ela sentou num banco e os observou.

"Eles não olhavam uns para os outros, e eles não olharam para mim. Ao invés disso eles olharam para tudo. Eles eram tão sutis e constantes que eu senti como se estivesse vendo pessoas pela primeira vez na vida, realmente observando eles, livres para agir, livres da opressão que vem com um som imptuoso e audaz, a cegueira que enxerga, e adesconfortável proximidade que são a marca da comunicação dos humanos. Em constraste, essas pessoas cativas falavam suavemente, seus corpos são poéticos, seus rostos e sua dança são poéticas também, rodopiam conversas a partir da humidade e do perfume, do solo e do passado. Eles são como eu.



Eles não tem que delimitar sua visão e cortar o mundo em pedaços. O ver de perto os teria deixado sem ver e cortaria as partes móveis e que respiram do mundo, fazendo-o plano - de pouco valor. Então eu passei o primeiro dia, olhando sem olhar, entendendo sem falar. Escrevendo poesia na nossa existência, e lendo-a como tecelagem."

Após essa experiência de descoberta, Dawn voltou ao zológico ao menos uma vez por mês. Com uma minuciosa observação ela percebeu a passagem das estações e com um olhar livre de pre-conceitos ela passou a conhecer como a sociedade cativa dos gorilas daquele zológico respeitavam suas regras e conviviam como um grupo social. Ela descreve esses anos como o despertar de sua alma.

Muitas vezes ela observou a crueldade humana, os xingamentos lançados aos gorilas, as comparações amorais e mais uma vez sentiu-se como os gorilas lembrando-se da sua própria existência e como já fora tratada pela sociedade.

"É esta a razão porque os gorilas são animais cativos. É por isso que as pessoas loucas também são mantidas cativas. Nós somos os animais que não falam a língua, olham os olhares, ou se movem na direção certa. Cativeiro é para observação. Sente, ignore, resista, permaneça."

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