segunda-feira, 5 de abril de 2010

Rituais

"A maioria das pessoas autistas precisam de ordem e o ritual é uma das maneiras de colocar ordem em situações em que se sente caos. Tanto estímulo flui dentro do corpo de maneira tão rápida sem nunca ter sido processado: os filtros que as outras pessoas tem simplesmente não estão lá.

É como nadar em meio à algazarra fraturada e inesperada. Você se sente como se estivesse se afogando num mar sem previsibilidade, sem marcadores, sem terra. É como estar cego no brilho de uma visão mais aguçada. As pessoas com autismo buscam instintivamente a ordem e a simetria: arranjam as colheres sobre a mesa, alinham palitos de fósforo ou balançam o corpo para frente e para trás, cortando um dilúvio de estímulos em pedaços menores, com a repetição dos movimentos de seus corpos.

Quando eu acidentalmente toquei Congo (um gorila no Jardim Zológico em Seattle) pela primeira vez, foi porque eu estava tão focada em alinhar as frutinhas de uma maneira ordenada e simétrica - Eu não notei que a mão gigante tinha tocado a minha no primeiro instante. Paradoxalmente, se não fosse os hábitos ritualísticos do meu autismo, eu nunca teria experimentado o que é sentir o toque e o contato com o outro."

Dawn Prince-Hughes no livro Songs of the Gorilla Nation.

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